quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Arte a serviço da dignidade humana

Aracaju, 20 de setembro de 2012.


Carta aberta ao Boris

Senhor apresentador,

Aracaju de uma forma geral é uma cidade arejada e limpa. Há nesta cidade quem dê pito em quem a suje e igualmente há o voluntário cuidando com carinho de um cantinho de uma praça, como respaldo ao relevante trabalho das pessoas admiráveis que cuidam da limpeza pública.

Admiráveis sim, porque, qualquer pessoa, sente apreço por quem seja considerado de alta relevância social. Neste ensejo, pode-se acreditar que, entre os brasileiros mais admiradores do senhor, Boris, estavam muitos trabalhadores, e, entre estes, GARIS e MARGARIDAS.

O Brasil pôde acompanhar os processos movidos por GARIS contra a sua pessoa, cujos desfechos foram favoráveis ao senhor. É compreensível, a nossa justiça é reconhecida pelos próprios juristas como monetarista, classista e carrega os mesmos cacoetes da sociedade. Com o seu gesto e suas palavras, ainda que o senhor tenha pedido desculpas, continua o eco da ofensiva. O senhor deu a entender que, no Brasil deveriam existir castas e a casta inferior, sequer, deveria se dirigir à outra acima para lhe desejar felicidade.

As instituições se preocupam com hierarquia a propósito da disciplina. O seu comentário, "Que merda: dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. O mais baixo na escala do trabalho", no entanto, sinaliza que, numa sociedade conservadora, a hierarquia é usada muito mais para a discriminação e humilhação, que alimentam o preconceito e o ódio, do que servir a propósitos nobres.

Mas, a labuta prossegue e as Margaridas e os Garis mais conscientes do que nunca, saberão como agir. Eles são simples e sinceros e o bom humor os impede de ser rancorosos. Não perdem a dignidade nem a ternura. São estes fatores que os levam a educar os filhos e a tocar a vida.

Nesta cidade, capital do Estado de Sergipe, Sr Boris, a admiração pelo trabalho das Margaridas e dos Garis levou a principal empresa empregadora desta gente humilde, valorosa e honrável, a absorver uma ideia gestada em parceria com a Empresa Municipal de Serviços Urbanos e passada pela prancheta de um escultor: um monumento com a altura de cinco metros para elevar simbólico e prestigiosamente quem parece ser invisível aos olhos da sociedade.

Este monumento erguido às Margaridas e aos Garis pode também ser entendido como gesto de desagravo à sua classificação de cunho preconceituoso. Nestes tempos de democracia com determinação para banir o preconceito e incluir os indivíduos socialmente, ninguém deve passar vexame dizendo se sentir superior àqueles que limpam a sua sujeira.

Vivas às mulheres e aos homens que transformam o seu trabalho em dignidade e esperança para todos. Vivas às Margaridas e aos Garis.


Antônio da Cruz
Artista Plástico e Cenógrafo

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