Entrevista com o poeta

Jorge em Verso e Prosa 
Entrevista realizada por Ramon Diego Câmara Rocha e publicada originalmente no blog Impressões.

Em entrevista através de e-mail para o blog impressões, o autor dos livros “Mutante in Sanidade” e “Glória cantada em versos”, nos fala sobre como foi o seu primeiro contato com a escrita e o seu sentimento de amor por ela. Fala-nos também, como bom apreciador de arte e compositor que é, sobre a sua relação com a música e com essa nova forma de divulgação literária, o e-poema. 

Sempre muito simpático e falante, o professor, poeta, compositor e amigo se mostra à vontade em falar sobre literatura, arte, cultura e música. confiram agora a entrevista com Jorge Henrique:

Primeiramente, Obrigado por aceitar nos conceder essa entrevista.
 
1. Caro poeta Jorge, para começar, gostaríamos de saber como se deu sua paixão pelo tear da escrita?

(Jorge): Cometi meus primeiros poemas, ou ensaios de poemas, na adolescência, 16 ou 17 anos, mas antes disso a poesia já me fascinava. Fui apresentado à Literatura de Cordel aos 10 anos. Naquela época, já viajava pelas histórias de João Grilo e Camões. Também gostava de folhear os livros didáticos, meus e de meus irmãos, em busca de poemas. Lá encontrei Gonçalves Dias, Álvares de Azevedo, Castro Alves, Carlos Drummond. A rima e o ritmo me agradavam muito, além da maneira diferente, singular de dizer coisas comuns. Aos 11 anos, ganhei de presente “A Invenção de Orfeu”, de Jorge de Lima. Embora não entendesse os poemas, gostava muito de lê-los. Ainda hoje sei de cor a primeira parte do Canto I – A Fundação da Ilha. O gosto pela escrita veio como uma extensão do gosto pela leitura. À medida que imergia em textos diversos, começava a emergir em mim uma vontade de também produzi-los. Quando conheci os poemas de um amigo de meu irmão, dos quais gostei muito, e vi, em carne e osso, um poeta tão próximo e tão real, imaginei que poderia fazer meus próprios poemas e foi assim que comecei. Essa paixão pela escrita, no entanto, é diversa da amorosa, que irrompe abruptamente, nos arrebata com sua intensidade e furor para, em seguida, desvanecer e deixar-nos o vazio. É uma paixão que começa morna, mas que segue em escala ascendente pelo tempo em que se vive. Quanto mais escrevemos, mais temos a escrever. É uma paixão de nunca acabar.

2. Sabido que tem uma parte de seu material poético publicado em blogs e sites como o  Overmundo e o Recanto das Letras. Pergunto: você acha que os meios eletrônicos são uma forma de divulgação moderna que ameaça o livro impresso? Como, a partir desses meios, podemos pensar numa modernização literária?

(Jorge): Imaginar que o livro impresso esteja fadado à extinção não me parece razoável. É óbvio que o suporte midiático no qual circula o texto escrito sofreu transformações decorrentes da evolução tecnológica. Pouco importa se estamos tratando de barro, papel ou meio digitalizado, estes são apenas os suportes. O que ocorre é que os meios eletrônicos inauguraram uma nova dimensão para o texto escrito, estamos falando de novos parâmetros midiáticos. Essa nova dimensão do texto também atinge a Literatura, é óbvio, e abre para o escritor um leque de possibilidades interessante. Sugiro que acessem este link (http://www.overmundo.com.br/banco/o-poeta-e-meio) para que possam ler um exemplo de um “poema hipertextual”. O autor associa palavras de seus versos a endereços da internet que ampliam de uma maneira inovadora as possibilidades de seu poema. Outros exemplos, bem mais contundentes do que estou falando, podem ser vistos no Portal Literal (http://literal.terra.com.br/ferreira_gullar/epoemas/index.shtml?epoemas). Lá nosso grande Ferreira Gullar dá demonstrações do que chama de “e-poemas”, ou seja, poemas eletrônicos. São poemas cuja concepção se deu em meio digital e cuja própria forma só é possível nesse meio, pois demanda som e movimento, algo impraticável numa folha de papel. Além disso, esses poemas são interativos. O que pretendo dizer com isso? A Literatura já está encontrando novas possibilidades de se autoconstruir nos novos meios digitais. A Literatura de Cordel (veja http://www.compadrelemos.com/), por exemplo, já ganhou a rede de tal forma que, em alguns anos, as novas gerações terão dificuldade de imaginar que ela existia primitivamente de maneira tão diversa da internet. O Orkut hoje é palco de magníficas “pelejas virtuais” de repentistas de todo o país (veja o http://festverso.vilabol.uol.com.br/).
O livro impresso e nossa relação táctil com ele, no entanto, permanecerá. Tenho um amigo que, sempre que pega qualquer livro, cheira a capa, as folhas, passa-as perto do rosto para sentir seu perfume e o carinho do vento que produzem. Acho legal isso. Na verdade, também temos uma relação física com os livros antes de lê-los e ao lê-los. É como um ritual de sedução que antecede o envolvimento e o próprio envolvimento. Não consigo imaginar que algo assim possa deixar de existir um dia.

3. Você escreveu um livro em cordel sobre a sua cidade natal, Nossa senhora da Glória, como se deu essa ideia?

(Jorge): Estava se aproximando o aniversário de 80 anos do município e me incomodava que aquela data passasse em branco. Pensei numa senhora prestes a completar 80 anos. Um aniversário assim é algo significativo, que necessita de uma comemoração, afinal é quase um século. Soube do edital do Programa BNB de Cultura e vi que poderia ser o meio ideal para realizar meu intento. Então preparei o projeto e o encaminhei para lá. Minha intenção era não apenas comemorar essa data, mas levar a história do município às novas gerações da maneira como eu adoraria tê-la conhecido: pela poesia de cordel. O aniversário seria comemorado de forma diferente e envolvente, pois a Literatura tem esse poder de nos enlevar. Com o projeto aprovado, pus-me a trabalhar. Fui continuar a pesquisa histórica que já havia começado anos antes e passei a estudar essa forma literária mais profundamente. Foi aí que entrei em contato com poetas como Compadre Lemos (MG) e João Rolim (CE), com os quais me correspondi. Eles contribuíram para a revisão poética de meu texto, juntamente com Luís Alves, o Gauchinho, cordelista, amigo e conterrâneo. Mergulhei no universo da poesia popular e fiquei mais fascinado ainda, pois descobri sua riqueza, agora sob um ponto de vista mais técnico. Produzir o cordel foi um trabalho desafiador, intenso e gratificante que levou, efetivamente, dois meses, pois só tinha tempo para escrever nas sextas-feiras, à tarde. O resultado me agradou bastante. Nessa mesma época fui apresentado ao artista plástico sergipano Elias Santos, que ilustrou o livreto divinamente com três xilogravuras. Na ocasião do lançamento, tive o prazer de contar com a apresentação de dois magníficos repentistas da região: Vem Vem do Nordeste e Gilberto Alves. Foi uma festa inesquecível. Em seguida, cumprindo o que previa meu projeto, fizemos a distribuição gratuita de cerca de 3.500 exemplares nas escolas públicas da localidade e ministrei uma oficina de Literatura de Cordel, da qual guardo muito boas recordações. Tenho tudo isso documentado em meu blog http://poetajorge.blogspot.com/ e no Overmundo (http://www.overmundo.com.br/perfis/poeta-jorge-henrique).

4. Jorge, gostaria de saber como você vê a Literatura em Sergipe e, para ser mais específico, em Nossa senhora da Glória?

(Jorge): Sergipe tem uma produção literária privilegiada. A terra que gerou o grande Tobias Barreto continua a dar ao Brasil grandes nomes, tanto na ficção quanto na poesia. Gosto muito dos contos de Antônio Carlos Vianna e dos romances de Francisco Dantas. De nossa poesia, tenho preferência por Santo Sousa e Iara Vieira. Mas fico mesmo entusiasmado quando vejo surgirem poetas em minha terrinha. Será lançada, acredito que ainda este ano, uma pequena antologia que reúne alguns dos jovens nomes da poesia gloriense. Nela temos nomes como Euvaldo Lima, que lançou há pouco tempo seu “Um sopro de Versos”, Geovania Manos, Ancelmo Aragão, Israel Bispo, Bárbara Juca e o caro amigo que me entrevista agora, Ramon Diego. O título, como você sabe, será “Retalhos”, acredito que porque apresente apenas um retalho de cada obra individual costurado aos demais, formando uma colcha que mescla estilos e temas de cores variadas. Tive o prazer de lê-la em primeira mão e tenho certeza que dará muitas alegrias aos nossos conterrâneos.

5. Jorge, seu primeiro livro se chama “Mutante in sanidade”, nome que agora pertence a uma banda local. Gostaria que nos falasse mais desse seu envolvimento com a música e se tem mais algum trabalho ainda para esse ano.

(Jorge): Vi o nascimento dessa banda. Como meu irmão, Luís Tiago, é o vocalista e conheço os demais integrantes, inclusive um deles, Gilmário, é meu ex-aluno, pude acompanhá-la desde os primeiros ensaios. Até que um dia, Tiago me falou dessa ideia deles de batizar a banda com o título de meu livro. Achei legal. Gostei mais ainda quando introduziram em seu repertório duas músicas que eu havia composto com meu outro irmão, Maurício Júnior: “I wanna be alone” (Eu quero ficar sozinho) e “Nos Jornais”. A primeira delas foi inscrita no II Festival de Música Aperipê, em 2010, e classificou-se entre as dez finalistas, enchendo-nos de alegria. Estas composições, no entanto, não são recentes, datam de aproximadamente quatorze ou quinze anos. Na verdade, meu envolvimento com a música se deu nessa época. Em meados dos anos 1990, eu e meu irmão, Maurício Júnior, juntamente com alguns amigos como Marquinhos (Dedinho) e Marquinhos (BJ) compúnhamos a primeira formação da banda Fator RH (Maurício Jr. no baixo, Bj na bateria, Dedinho na guitarra e, como não tinha vocalista, eu fazia o vocal nos ensaios). Definitivamente, eu não seguiria como vocalista, mas era bem legal. Foi um período de intensa produção musical. Dessa época, tenho umas dez composições, a maioria feita em parceria com meu irmão. Outras com mais parceiros como Bj e Calixto. Quanto a trabalhos para esse ano, não tenho. Estou bastante envolvido com a pesquisa do mestrado em Letras que faço na UFS. Até o início de 2012 não poderei dividir minha atenção com mais nada.

Obrigado pela entrevista e esperamos que continue a funcionar como referência literária em Nossa senhora da Glória e Sergipe. 

Eu é que agradeço pelo convite e pela honra de poder integrar esse espaço virtual que, embora ainda esteja dando seus primeiros passos, já se mostra tão criativo e vigoroso. Certamente, o “Impressões” terá uma longa caminhada de contribuições para a Literatura e para a cultura brasileira. Parabéns pela iniciativa e sucesso!

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