sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Antônio Cruz escreveu sobre "Glória" Cantada em Versos no CINFORM

A Glória do Poeta da Boca da Mata

Antônio Cruz

 
“Para a seara de versos
Do trovador popular
De minha terra a história
Pretendo agora cantar,
Pois é seu aniversário
E é justo e necessário
Suas glórias relembrar.”

O Município de Nossa Senhora da Glória tem artistas e poetas. Tanta gente boa que a cidade merece um texto-hino, ou melhor, um livro-poema para comemorar os seus 80 anos. E estando localizada no sertão, nada melhor do que um típico Folheto, como é conhecido o livro com a autêntica “literatura de cordel”, feito por um filho de Glória, cidade que cresce como pé de mandacaru verdejante: bifurcando-se para cima, resistente ao sol escaldante do dia e à friagem da noite.

O herói dessa façanha chama-se Jorge Henrique. Um poeta de versos livres que envereda assim pelo rigor da métrica. As estrofes aqui reproduzidas são do Folheto “Glória” cantada em versos, oitenta anos de emancipação. Autor também da obra “Mutante in Sanidade”, poesia, Jorge Henrique, poeta premiado, http://poetajorge.blogspot.com/, é professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira na rede pública de ensino.

Herói sim, pois Jorge Henrique é um intelectual ativista incansável, ante as tantas dificuldades conhecidas, num país em que cada cidadão tem de criar as próprias oportunidades uma vez que elas não surgem, e as muitas instituições, raras exceções, que deveriam criá-las mais servem aos seus titulares do que ao povo. Para a “felicidade geral da nação” as exceções estão se tornado regra e as instituições federais vêm patrocinando as iniciativas brilhantes.

O lançamento do cordel “Glória” Cantada em Versos, aconteceu no dia primeiro de agosto, no Espaço Barbosa Eventos, em Glória, como um fato cultural bem produzido, tamanha a combinação entre elementos apropriados da ambientação singela, mas criativa. Os repentistas convidados: Vem-Vem do Nordeste e Gilberto Alves, que proporcionaram um belo espetáculo de cultura popular, e as pessoas atenciosas, interessadas e entusiasmadas que compareceram em grande número. O poeta era só satisfação. O desdobramento deste acontecimento está se dando entre os alunos das escolas públicas e a população, por estarem lendo e comentando o conteúdo do cordel por toda a cidade. O fato resultou para todos em grande contentamento ao reconhecerem na história do Município um motivo para a valorização da própria identidade.

“Os tropeiros, no entanto,
Temiam seguir viagem
Durante a noite, com medo
De topar com uma visagem,
E ali faziam pousada,
Na boca da mata armada,
Assombrados com a paisagem”

Em tempos idos, antes de 1922, a cidade de Nossa Senhora da Glória era chamada de “Boca da Mata”. Há uma explicação plausível: o agreste que é a região situada entre o sertão e a zona da mata também tem floresta tropical. A interface entre a caatinga e essa floresta, no agreste, é naturalmente irregular, sendo possível que por ali, onde hoje é Glória, existisse frondosa mata de acesso difícil e perigoso. Na colonização a penetração no interior foi feita se utilizando os rios, porém, foram abertos caminhos para a expansão do território e que eram percorridos pelos tropeiros. Muitos se deslocavam do alto sertão para a zona da mata e litoral. Eles vinham, possivelmente, comprar tecidos, açúcar e outras mercadorias, tanto em Laranjeiras quanto em Maruim, cidades então com trapiches para aportarem diversas embarcações e de grande movimento comercial.

“Boca da Mata era ainda
O nome do povoado,
Só mudou em vinte e dois
Pois passou a ser chamado
Nossa Senhora da Glória.
Foi a linha divisória
Do presente com o passado”

O povoado Boca da Mata, antes pequenino, se emancipou definitivamente do Município de Gararu em 1928, quando foi elevado à categoria de vila. Depois cresceu tanto a ponto de ser chamada de “A Capital do Sertão”. Hoje, a cidade de Glória tem também Jorge Henrique para cantá-la, seja com versos livres ou contabilizando sílabas poéticas no ritmo da métrica, com suas parcelas, sextilhas, setilhas e outras estrofes; poeta afinado com seu tempo e sua gente; homem dotado de alma gigante.

Fonte: Cinform

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